O SALVADOR DO ESTADO É VOCÊ

  • Dayane CANDATTEN

Resumo

O poder da palavra agregada à ignorância alheia traça um perfil completo de uma arma extremamente letal para a sociedade. Basta observar a história e constatar que várias mortes foram causadas por ideologias sem fundamento, impostas somente pela palavra de um homem, que proferiu sua opinião de forma tão determinante, ao ponto de várias pessoas tomaram para si essa opinião e a conseqüência disso foi e sempre será catastrófica. A arte da retórica surgiu na Grécia, visando atender a nova demanda da democracia que mostrava-se cada vez mais competitiva. E nesse momento em que a voz passa a ser de extrema importância para a ascensão do indivíduo, surgem os Sofistas que ensinavam meios para a dominação da técnica do discurso em troca de dinheiro. Segundo Górgias “a palavra é déspota poderoso“, sendo assim é de costume dos políticos especializarem-se em técnicas de persuasão e oratória, para se sobressair diante da grande quantidade de concorrentes e alavancar suas carreiras política. Contudo não é só na política que esse costume se manifesta, até mesmo na religião existem grupos que acreditam na volta de um salvador que os trará todas as repostas e os livrará de todo o mal. Grandes líderes em algum tempo já foram, ou não, fundamentais para a ascensão da sociedade, por quanto estes sempre estiveram aquém da sua época, combinaram ideologias com grande poder de persuasão e conseguiram mobilizar grande parte da população, a fim de atingir seus  objetivos. Dirigentes, na maioria das vezes, podem ser prejudiciais para a coletividade, pois quando a sociedade se deixa levar por uma única opinião, ela se fecha para novas ideias e fica alienado no que seu líder diz, deixando de pensar ou questionar as adversidades que possam surgir. As principais falhas dos sistemas de governos são, na maioria das vezes, a personificação do poder, a detenção do poder por um grupo seleto de pessoas, a falta de conscientização ou educação dos cidadãos. Hanna Harendt já vislumbrava esse vício da sociedade e exprimia que: “Onde os homens aspiram a ser soberanos, como indivíduos ou como grupos organizados, devem submeter-se a opressão da vontade, seja esta a vontade individual com a qual obrigo a mim mesmo, seja a ‘vontade geral’ de um grupo organizado. Se os homens desejam ser livres, é precisamente à soberania que devem renunciar” Em toda história tivemos momentos épicos em que apenas um homem, foi o divisor de águas entre vários conflitos, porém não é justo colocar o peso e a responsabilidade de um povo inteiro nas costas de apenas um homem. Por isso é fundamental o conhecimento por parte da população para que ela mesma possa se governar em direção do que é melhor para todos. É preciso ampliar a concepção de mundo das pessoas, fazê-las entender que podemos mudar, mas que para isso seja possível, elas mesmas devem fazer por si próprias e não depositar suas crenças em alguém ou em um sistema de governo. Assim como Sócrates foi antagônico aos Sofistas, e procurou provar que os mesmos não sabiam de nada apesar de se intitularem expertos, a população tem que perceber, espelhando-se na própria história, que é preciso renovar a forma de pensar, e assegurar que tem que existir bem mais conteúdo e comprometimento atrás de discursos bem elaborados. Exigir dos órgãos competentes escolas públicas de qualidade, com bases fundamentais para a criação de um cidadão ativo e pensante,  buscando uma sociedade menos passiva. Ensinar de forma com que o individuo entenda a essência de viver em sociedade e não atendendo somente as pretensões da sofística que embasa conhecimentos apenas na aparência e opinião. Formar cidadãos é ensinar desde o inicio da jornada escolar, de forma clara e expressiva, os direitos e deveres de cada um, amestrar os sistemas de governos, principalmente do próprio país, para que quando a criança cresça, ela saiba o que está certo, ou ainda o que pode mudar e o fundamental de que forma isso poderá ser feito. Vale lembrar que isso deve ser a preocupação imprescindível de todos, José Saramago no seu texto A Racionalidade Irracional diz: “Falámos muito ao longo destes últimos anos (e felizmente continuamos a falar) dos direitos humanos; simplesmente deixámos de falar de uma coisa muito simples, que são os deveres humanos, que são sempre deveres em relação aos outros, sobretudo. E é essa indiferença em relação ao outro, essa espécie de desprezo do outro, que eu me pergunto se tem algum sentido numa situação ou no quadro de existência de uma espécie que se diz racional. Isso, de facto, não posso entender, é uma das minhas grandes angústias. “ ou seja, é dever de todos romper as barreiras da individualidade e promover bem estar da comunidade. E apenas com a educação aprofundada, em formar cidadãos, é que se poderá vislumbrar uma sociedade mais justa e humanitária. Porque dessa forma ela saberá cobrar seus direitos e garantir seus deveres, e compreenderá o real intuito de uma democracia, o mesmo fará valer o Parágrafo único Art 1º da CF que diz: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Porque sem o reconhecimento do poder do povo esse artigo de nada nos vale.
Publicado
2014-03-17
Seção
Artigos