HISTÓRIAS QUE NOSSAS AVÓS NÃO CONTAVAM – A ÉTICA E A ESTÉTICA DAS HISTÓRIAS INFANTIS

  • Maria Eugênia BERTOLDI
  • André Luiz Freitas dos SANTOS
Palavras-chave: infantil.educação.arquétipo.protótpo. catarse.

Resumo

Este trabalho tem como objetivo analisar as histórias que nossas avós não contavam sob a ética e a estética das “histórias infantis”, e o seu respectivo contributo para a formação do ethos Entre os antigos gregos, o termo Caos era usado para designar a matéria sem forma e por extensão algo sem função. Como não possuíam a ciência – no sentido strictu da palavra, se valiam de todos os recursos para instrumentalizarem o seu pensamento crítico - ou seja; era impingido um fator ordenador: O Cosmos. A idéia de Paidéia trazia em seu bojo algo mais elevado do que os conceitos modernos de educação, era um ideal formativo que tinha no Homem o seu epicentro; os processos que permeavam este constante vir-a-ser não eram reducionistas, mas sistêmicos. Homero, através de seus poemas épicos: Ilíada e Odisséia transforma: deuses, semideuses e heróis - através da manifestação da Arete, em modelos a serem seguidos. Estes personagens ou estes nossos “outros Eus” - independente da forma como o conceituamos, se tornaram os arquétipos nos quais nós – enquanto protótipos refletíamos o que se passava nas profundezas insondáveis de nossas almas e no decorrer da “jornada do guerreiro” passávamos por um processo de catarse que nos levava ao final da mesma a introjetarmos uma projeção burilada a nossa personalidade. Esta experiência subjetiva ao nível de nosso inconsciente coletivo – nos dizeres de Carl Gustav Jung, se dá dentro de nossos sonhos e fantasias. As doutrinas maniqueístas – que prevaleceram do Sec. III até os fins da idade Média (Sec. V a XV) vieram a reduzir os espectros de variantes: ou você era bom ou mal, os temas abordados giravam basicamente entorno de um dos sete pecados capitais, a saber: vaidade, gula, inveja, luxúria, hipocrisia, avareza ou preguiça. O ético não estava mais ligado ao estético, o herói não era mais o virtuoso, mas o covarde que não teve tempo de fugir. É importante lembrar que os contos de fadas poderiam ser tudo, menos infantis, pois não foram escritos para crianças, mas para entreter adultos e continham explicitamente cenas de: canibalismo, estupro, etc. Vale lembrar que estas histórias adentravam o universo infantil por uma mera questão de contingência, pois até meados do século XVIII a criança era vista como um adulto em miniatura, participando de todo o contexto social. No século XIX a criança foi tratada dentro de sua singularidade e teve sua inocência resguardada. No século XX voltamos a tratar a criança como um adulto; o pó da fada virou heroína, as pedras mágicas viraram crack e a varinha mágica se transformou num fuzil AK-47. Toda esta divagação – a princípio despropositada, nos leva a polêmica da discussão da redução da maioridade penal. Estamos tentando transformar crianças e adolescentes em Homens, deixando de respeitar a frágil fase de transição na qual se encontram; estamos tentando transformar lagartas em borboletas sem deixar que passem pela fase da crisálida e mesmo assim queremos que voem. Que tipo de histórias nos estamos contando para nossas crianças agora? Terão elas um final feliz?
Publicado
2015-05-06