O HOMEM FRAGMENTADO E OS CONFLITOS DO ESTADO ESTACIONÁRIO: ENSAIO SOB A IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA DE C. W. MILLS EM A PROMESSA

  • Ítalo Salomão RIBAS

Resumo

O caráter social da condição humana, o homem como produto histórico em rede de implicações contemporâneas e extemporâneas ao individuo, que raramente têm percepção do cenário intergeracional disposto sobre aspectos biográficos (o “eu” e a sensação de pertencimento – o pessoal) e históricos (ocorrências estruturais – o impessoal) entrelaçados por dinâmica interacional, alcança sujeito de personalidade multifacetada que presencia rupturas por força e contingência em seu ego, moral e ética. Volta-se o olhar para o antropocentrismo biográfico em que o ator é capacitado pela imaginação sociológica a compreender o cenário histórico mais amplo em termos significativos para a vida íntima, não há produto isolado, inexiste a possibilidade de análise unidimensional, o indivíduo somente pode ter consciência verdadeira de sua experiência e avaliar seu destino estando localizado em dado período como produto socioambiental histórico. A imaginação permite compreensão das comunicações frequentes e contínuas entre três grandes campos: a história, a biografia e as relações entre ambas no tempo. A promessa se refere ao despertar para uma análise holística em que a soma das partes não compõe o todo, porém a totalidade é produto das interações homem-homem e homem-ambiente à época pregressa, presente e possibilidades futuras. Permeada por acepções diversas da realidade social e antropológica que norteou o lapso histórico dos anos quarenta e cinqüenta, naquilo que se orienta pelo enlace da pessoa e seu consciente angustiado sob equívocos interpretativos ou a distância existente entre o olhar do eu imediatista e o mundo em diversidade mutacional incessante. Defende clara oposição ao corpo científico burocrático, inibidor da pesquisa social por meio do excesso metodológico, congestiona o trabalho com obscuridades, vulgarizam o ato por com pretensões e problemas insignificantes que se afastam do interesse coletivo. Desenha tendências sociológicas e propõe estudo amplo do que chama de tradição, e neste campo vasto vislumbra a oportunidade que se prende a promessa intelectual das ciências sociais: Os usos culturais da imaginação sociológica pelo sentido político inevitavelmente existente nos relacionamentos da sociedade humana, a ciência inevitavelmente não se afasta do caráter utilitário coletivo. Dos homens, no que o autor chama de a idade do fato, surge o questionamento aqui parafraseado: Será espantoso o comportamento humano de insensibilidade, angústia pelo não pertencimento à época em que vivem... Pela inexistência de compreensão em macro-senso histórico-cultural frente ao horizonte súbito dissociado de valores que promovam identidade moral. O homem racionalmente incapaz, dominado pelo caráter informacional, esgotado em energia moral? A necessidade do indivíduo e do corpo social integrado é a qualidade de espírito para destinar a razão à compreensão da utilidade lúcida da gama informativa perante o mundo a que pertence como produto histórico socioambiental. Esclarece neste momento teórico a origem tradicional e o desenho de campo comum no âmbito do pensamento sociológico difundido por diversas tendências que coexistiram e coexistem na forma do contínuo da história humana, sob os desdobramentos ideológicos das sociedades contextualizadas. Denota crise conceitual que atinge o individuo dilacerando seu espírito crítico e fratura a ordem social com excessos formais burocráticos, excesso informacional pouco problematizado pelo ator, sensação de inexistência particular em que o homem é compelido, é comprimido pela impertinência daquilo que o rodeia. A contribuição da imaginação sociológica desprendida do caráter meramente formal e associada ao interesse comum adere a três pontuações irrefutáveis: A sociedade a que se destina o estudo: Das relações sociais e ambientais;A sociedade mediante a história: O produto da atividade intergeracional; Os homens que ali se encontram: Ações e reações do ator-sociedade e suas implicações físicas e psicoafetivas na interação humana. Algumas ponderações pertinentes: Destarte que a tese núcleo supra sintetizada se desdobra em idéias moleculares para a grande teoria: Racionalidade que supera a ordem moral pelo desgaste da sensibilidade entre o eu e o mundo, isolamento do universo pessoal;O estudo social para o interesse comum; A imaginação sociológica para a consciência e compreensão individual que eleva a integração comunitária; O detrimento do mecanicismo do caráter humano pela lucidez de espírito, dada a percepção dos valores de identidade e pertencimento, a angustia como produção do conviver descontextualizado, o viver, pessoal e impessoal, como sistemática de implicações mutuas; Sob a visão humanista resgata-se a finalidade utilitária da ciência, acerca de que nada há de se argumentar sobre aquilo atemporal que procura um fim não funcional em si próprio. Que pese as referências do próprio autor em que são citados Emile Durkheim e Ausgust Comte, entre outros, que embora apresentem teses positivistas não promoveram estudo extremamente generalista, ao contrário mantiveram o olhar antropocêntrico ante a necessidade da construção plena do consciente humano ante o meio empírico, presenciado e produzido ao longo do tempo, desvincular o homem das superstições dogmáticas conformativas. A sociologia não se prende puramente a aspectos metodológicos de produção mecanicista orientada a interpretações diversas da mesma realidade, que por vezes é dissociada do interesse comum, mas procura conscientizar o olhar do homem, elucidar problemas e trazer lucidez ao observador para que possa alcançar melhor percepção das relações do indivíduo e o amplo ambiente multifacetado e transgeracional. A imaginação sociológica percebe a cultura sociológica como fundamental naquilo que estabelece cenário colaborativo do saber mediante a necessidade de autoconhecimento e principalmente da impossibilidade da supressão do caráter social presente na condição humana: Cabe ressaltar que no que tange as discussões da cadeira de sociologia para o direito evidenciamos nos discursos de Durkheim (supracitado), Max Weber e Karl Marx aquilo que tende a percepção das interações individuo-conjunto, pessoal-impessoal, atividade e passividade dos entes e entidades em mobilidade oscilatória sob a forma de produto indissociável de contextualização socioambiental histórica. O desafio, a promessa da imaginação sociológica alcança a integração de atores pelo consciente lúcido coletivo do homem perante suas realizações e no que ele sofre nas mais diversas implicações multifatoriais inevitáveis da vida, vida esta que inexiste na forma da total previsibilidade laboratorial e é permeada por tendências de múltiplas varáveis. A imaginação sociológica resgata e objetiva a destinação formativa do indivíduo e do fortalecimento da potência conjunta em detrimento da conformação excludente e predatória que lacera potenciais por displicência (não pertencimento e identidade- insensibilidade) ou angústia (a impotência – de origem estrutural colocada como deficiência de alguns ou daqueles não adaptados). O olhar para o macro estrutural é cerne de matriz integrativa que se eleva e se sustenta na cooperatividade sob o prisma do bem-estar comum que em muito se aproxima do bem público. O corpo social e os operadores jurídicos carecem e necessitam atentar as movimentações sociais sob a pena da obsolescência e ineficácia, ou da atuação maquinal como apêndice de estruturas que se denotam incompreensíveis a aquela racionalidade simplista que procura relações objetivas de causa e efeito, ou inocentes e culpados. O estudo do direito transcende a culpabilidade e está entrelaçado com aspectos da vida conjunta que tende a ser construtivista e não meramente punitiva para auto-preservação de dado regime estacionário por alienação ou força.
Publicado
2018-02-19
Seção
Resumo Expandido