Uma Ciência Social e Exata.

Autores

  • Rildo Ciro Bueno

Resumo

A ciência contábil ou contabilidade propriamente dita é vista por muitos como uma ciência exata, o que por princípio é um engano, porém plausível, haja vista que percebe-se naquela ciência um trato muito sistematizado com números que acabam por mensurar o patrimônio das células sociais. A ciência contábil é uma ciência social, uma vez que por definição a contabilidade é “a ciência que estuda os fenômenos patrimoniais, preocupando-se com realidades, evidências e comportamentos dos mesmos, em relação à eficácia funcional das células sociais” (Lopes de Sá, 2010). Evidencia-se nessa definição, a prioridade da ciência contábil em estudar o fenômeno patrimonial com relação às atividades das células sócias. O fenômeno patrimonial, baseando-se em Lopes de Sá (2010), é todo acontecimento que, de alguma maneira reflita a essência da riqueza de entidades, a qualquer tempo, voluntariamente ou não, imediatamente percebido ou não. Assim, tem-se a clareza que a contabilidade tem que ser perspicaz às influências que geram o fenômeno, não somente ao fato em si. Quando uma empresa, por exemplo, decidir comprar um bem, normalmente tem-se a percepção errônea de que a contabilidade só estará envolvida após a concretização da compra, porém o fenômeno patrimonial teve seu início desde o despertar da necessidade de se adquirir esse bem, pois, mais importante que o valor do bem em si, é saber se essa compra estará voltada à satisfação da necessidade da atividade empresarial, uma vez que, já na percepção da necessidade de aquisição, modificações na riqueza da entidade começam a acontecer. Dessa forma, pode-se entender que a contabilidade não é somente uma ciência que valora, mensura, registra e analisa o patrimônio, mas que também se preocupa com sua eficácia, com a qualidade do patrimônio das células sociais. Por levar, também, à mensuração do patrimônio, a ciência contábil acaba por distinguir elementos quantitativos (formal) além dos qualitativos (essencial), sabendo-se que na contabilidade a essência deve prevalecer sobre a forma, corroborando ainda mais o seu caráter social. Percebe-se na ciência contábil uma inter-relação social implícita quanto aos seus usuários, pois estes necessitam das informações geradas por aquela para algum fim e ela, por sua vez, é influenciada pelas necessidades dos que dela demandam. Isso evidencia, portanto, que muitos interesses internos e externos determinam a finalidade do conhecimento contábil. Para embasar teoricamente esse pensamento, Lopes de Sá (2010) enfatiza que “a contabilidade é uma ciência apta à contribuir, por meio de modelos à prosperidade das aziendas, assim, pode ensejar a prosperidade do todo social, ou seja, é a ciência competente para construir a prosperidade social a partir da somatória das unidades”. Dentre os usuários da contabilidade, alguns se sobressaem quanto à demanda e influência. O governo é um demandante das informações geradas pela contabilidade para que possa arrecadar impostos, taxas, contribuições, exercer acompanhamento sobre os preços e a livre concorrência, fiscalizar o mercado de capitais e estabelecer controle sobre o mundo financeiro. O estado poderia ter programas e sistemas próprios para satisfazer as necessidades citadas, porém, a um custo muito alto para os cofres públicos. A contabilidade por sua vez, sofre influência das regras governamentais, pois essas fazem com que a contabilidade se adapte e se modifique para atender a esse usuário, porém essa influência, demasiada em nosso país, faz com que, de alguma forma, a ciência contábil diminua o poder de criatividade e iniba o desenvolvimento de procedimentos contábeis que poderiam dar maior veracidade aos dados patrimoniais das células sociais. Assim como o governo, os administradores (no sentido mais amplo dessa palavra) também são usuários da contabilidade e demonstram a interdependência mútua entre gestão e a ciência aqui evidenciada. Os gestores das empresas se utilizam das informações contábeis como base para projetar o desempenho e corrigir eventuais desvios de “rota”. Em contrapartida, as decisões tomadas pelos administradores influenciam a contabilidade, haja vista que elas fazem com que a contabilidade se adapte à nova realidade da empresa ou celular[JK1] social. Se, por exemplo, a administração da empresa resolver abrir o capital, essa decisão implicará não só na forma jurídica, também será necessário um desenvolvimento maior da contabilidade da empresa tornando-a mais informativa e complexa. Percebe-se que a contabilidade tem uma identidade muito próxima às ciências exatas, devido a sua competência em buscar o valor mais próximo possível para mensurar patrimônio das aziendas, porém, evidencia-se que a ciência contábil prioriza a relação de influência e interdependência mútua entre os integrantes da sociedade, no sentido da melhor relação entre eles, o que a faz objetivar, em primeiro plano, a prosperidade social. Os poucos pontos destacados acima tem a finalidade de caracterizar a ciência contábil como uma ciência social, além de evidenciar que os dados quantitativos, normalmente mais percebidos pelos usuários da contabilidade, tornam-se de maior relevância quando associados à sua essencialidade, ao qualitativo propriamente dito. A junção dessas duas “pontas” é que faz a contabilidade se complementar dando a ela fortes características de exata, mas não a deixa se desvincular de sua essência social.

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Publicado

2023-03-22