POR QUE UMA EMPRESA QUEBRA?
Resumo
Por que uma empresa quebra? Simples, porque acabou o dinheiro. Mas se apresentar capacidade de endividamento pode resolver esse problema e seguir seu caminho. Então, para uma empresa quebrar, além da falta de disponibilidades terá também que estar com sua capacidade de endividamento esgotada. Mas ainda há uma esperança: se for lucrativa poderá reverter esse quadro, pois através dos seus resultados terá condições de recompor suas disponibilidades e reduzir seu endividamento. Além disso, poderá receber aporte de capital através de investidores atraídos pela rentabilidade e com isso se recuperar e voltar a crescer. Mas se as disponibilidades se extinguirem, se não houver capacidade de endividamento e a empresa não for lucrativa, não há muito que fazer. Quando a organização chega nesse ponto, sua situação é praticamente irreversível e é comum causar espanto como se tudo tivesse acontecido de surpresa. Não, nada acontece de surpresa. Tudo é fruto da gestão e se retrata através de indicadores. Ao elaborar uma Análise das Demonstrações Contábeis, todos esses indicadores são fundamentais, não existindo um mais ou menos importante. Todos se relacionam e mostram um determinado aspecto da empresa. Esses aspectos poderão retratar em que situação ela se encontra, as razões que a trouxeram até aqui e as projeções do que poderá ainda acontecer. A análise funciona como um diagnóstico da saúde da empresa, apresentando índices considerados bons e outros considerados ruins. É importante a seleção de um conjunto de indicadores que se relacionem, e indiquem as três vertentes fundamentais que mostram os sinais vitais da empresa: situação financeira, endividamento e rentabilidade. Indicadores isolados podem ser apenas dados. Quando analisados em conjunto com outros indicadores se transformam em informações. São essas informações que se tornam imprescindíveis para a tomada de decisões dentro de uma organização. A falta de recursos impede a empresa de se desenvolver e, em situações críticas, a torna inadimplente fechando-lhe as portas para a tomada de crédito junto a bancos e fornecedores. A melhor maneira de verificar essa situação é o estudo dos quocientes de Liquidez, que relacionam o que a empresa possui de capital circulante em relação às suas obrigações. Tomando como base a Liquidez Corrente, que relaciona Ativos Circulantes com Passivos Circulantes, percebe-se que se esse indicador ficar acima de 1,00, a empresa possui capacidade de pagamento das dívidas, mostrando uma situação satisfatória, isto é, que com o que possui consegue satisfazer suas obrigações. Mas a análise isolada desse índice pode induzir ao erro na interpretação da situação financeira. Nem sempre uma liquidez alta representa capacidade de pagamento e o inverso também é verdadeiro. Tudo depende dos prazos médios e, consequentemente, do ciclo operacional da atividade analisada. Por ser o Ativo Circulante formado, principalmente pelas Disponibilidades, as Contas a Receber e Estoques são recursos que já estão no caixa ou nas aplicações da empresa, e por isso disponíveis para uma utilização imediata. Das Contas a Receber espera-se que se realizem em um curto espaço de tempo, bem como os Estoques, isto é, que sejam vendidos rapidamente. Se a empresa apresenta dificuldades de caixa, esse problema pode estar relacionado aos prazos médios, por isso o relacionamento dos índices é fundamental. Estudada a situação financeira, parte-se agora para o Endividamento que será visto dentro da Estrutura de Capitais. Afinal, uma empresa pode estar com estoques, valores a receber e, principalmente, com volume alto de disponibilidades, tudo isso originado por capitais de terceiros que em algum momento deverão ser devolvidos, e quando isto ocorrer não terá mais nada. Entra nessa análise a dependência que a empresa possui desses capitais, em que o índice principal poderá ser o Endividamento Geral, que mede o tamanho da dívida em relação ao patrimônio da empresa. Se relacionarmos os Passivos de curto e de longo prazo com o Ativo Total, o indicador irá mostrar o quanto que a empresa que possui veio através de dívidas, ou o quanto que a empresa terá ainda que pagar. É natural que as dívidas causem um certo temor, mas se fossem tão ruins nenhuma empresa as teria. Para saber se as dívidas são questão de opção ou de necessidade, é importante um estudo do Grau de Alavancagem Financeira, que irá mostrar se para os sócios a utilização desses capitais alavanca ou não os seus ganhos. Outro ponto importante é conhecer se as dívidas estão concentradas no curto ou no longo prazo. O Endividamento, a princípio, é considerado uma corda no pescoço e quanto maior a dívida, mais grossa é a corda. Se a dívida for de curto prazo, indica que a corda está próxima do pescoço não dando muito espaço para movimentação, e um pequeno erro pode ser fatal. Se a dívida está no longo prazo, a corda pode ser grossa, porém ainda está longe do pescoço, dando ainda espaço para movimentações até se encontrar uma saída. Esse estudo pode ir mais longe, se analisado o nível de Dependência bancária. Mas dentro do que está sendo analisado, podem ocorrer combinações variadas que darão perspectivas positivas ou negativas. Empresas com bom nível de liquidez, baixo endividamento, mas que não apresentam lucros, não são boas empresas. Os resultados negativos, com o tempo, deterioram a folga financeira e empurram a empresa para o endividamento. Por outro lado, pode ocorrer de empresas apresentarem baixa liquidez, alto endividamento, mas serem extremamente lucrativas, o que pode fazer com que os resultados recuperem seu caixa e diminuam seu endividamento. Por isso, torna-se fundamental o estudo da Rentabilidade apresentada pela empresa. Esse estudo começa pelo Giro do Ativo, em que se verifica se os investimentos feitos no Ativo estão gerando vendas ou não. Parte-se do princípio de que tudo o que existe na empresa tem que ajudar a proporcionar Receitas. Com o estudo desse componente, haverá a possibilidade de perceber se a empresa vem sendo mais ou menos produtiva a cada exercício. Também será vista a Margem com a qual a empresa trabalha. Tudo o que se faz é para gerar resultado. Esse estudo se abre para ver onde estão os ganhos da empresa, se vindo da Margem Bruta, Operacional ou Líquida, essa análise passa ainda pelo caixa gerado na atividade, medido pelo Ebitda. Tudo o que se investe tem que gerar receita, visto pelo Giro do Ativo. Toda Receita deve gerar resultado, visto pela Margem. A combinação dessas duas medidas proporciona o Retorno sobre o investimento, que é a Rentabilidade do Ativo. Por fim, a empresa é constituída por investidores, que aplicam seus recursos, através do Capital Social, para obter retorno. Esse retorno será medido pela Rentabilidade do Patrimônio Líquido. Quanto maior esse indicador, mais atrativa a empresa se torna para uma nova captação de recursos através do aumento do Capital. Todos esses índices se relacionam e a visão correta da empresa parte de um perfeito entendimento desses relacionamentos. Há que se conhecer sobre a empresa e sobre o seu mercado, o que dará suporte para um entendimento melhor do que vem acontecendo. Recomenda-se também a elaboração da Análise Vertical e Horizontal, possibilitando uma visão de todo o conjunto. Todos esses indicadores obtidos, se possível de ao menos três exercícios, mostrarão as tendências da empresa. Com todas essas informações, o analista terá um conhecimento aprofundado da situação econômica e financeira da empresa, e verá que em processo de quebra são apresentados quadros de Rentabilidade negativa, Endividamento alto e de curto prazo e, por fim, índices de Liquidez insatisfatórios, não tendo capacidade de pagar suas obrigações. Durante os exercícios, a Análise das Demonstrações Contábeis é peça essencial no diagnóstico da empresa, mostrando o que vem acontecendo e fornecendo informações imprescindíveis para a correta tomada de decisões. Assim, comprovando sempre que o motivo da quebra de uma empresa não é a falta de dinheiro, e sim a má gestão de um patrimônio.